O Mutualismo é um movimento que apresenta muito valor
Ernesto Pereira lidera a Comissão Administrativa da Glória Portuguesa – Associação de Socorros Mútuos e, apesar de salientar que é curto o tempo em que está no cargo e no sector Social e da Solidariedade, mostra-se bem consciente da necessidade do rejuvenescimento do setor, através do reforço de entrada de jovens no Movimento e na aposta em projetos conciliadores em detrimento dos individualizados para permitir às associações um crescimento sustentável e, ao mesmo tempo, respostas eficazes à população.
Há um ano que vivemos uma crise pandémica que afeta todas as vertentes das nossas vidas. Como se tem adaptado a Glória Portuguesa – Associação de Socorros Mútuos a esta nova realidade?
Foi um ano complicado, especialmente, pelo facto de termos sido obrigados a deixar de atender presencialmente alguns dos nossos associados. Em todo o caso, e de uma forma geral, até correu bem. Tivemos que fazer, como todas as instituições, muitas adaptações, colocando alguns dos funcionários em teletrabalho, mas garantimos sempre o elo de ligação com os nossos associados. Aliás, esse elo foi tão bem conseguido que muitos dos nossos associados até passaram a usar mais os recursos digitais e tecnológicos para, por exemplo, pagarem as suas quotas e isso é positivo para a associação.
Que lições se podem tirar destes tempos que vivemos e continuamos a viver? Há, por exemplo, novos projetos que poderão nascer desta experiência de adaptação?
Sem dúvida que, para nós – e creio que para todas as instituições - os projetos tecnológicos serão uma prioridade numa perspetiva de chegar mais perto das pessoas, especialmente, das camadas seniores que vivem, muitas vezes, sozinhas e isoladas. A meu ver, podem ser criados projetos muitos interessantes de combate à solidão e ao isolamento, utilizando, para a isso, as tecnologias.
A Glória Portuguesa tem já algum projeto pensado nesse âmbito?
Não. Só levemente algumas ideias. Precisamos ainda de estruturar e desenvolver o conceito.
Está a liderar a Comissão Administrativa que se manterá em funções até à eleição de uma Direção. Quais são, neste momento, as suas principais prioridades?
As prioridades são assegurar o normal funcionamento da instituição, que está a ser concretizado, em virtude de um período recente conturbado e depois passar, brevemente, o testemunho para os novos órgãos sociais que darão continuidade a esta instituição que, no próximo ano, celebra os seus 130 anos.
É uma longa historia de vida…
Sim, é mesmo.
E essa longa história de vida tem feito a diferença na comunidade?
A sua base é eminentemente social e de apoio, pelo que é muito importante na e para a comunidade e faz a diferença para muitas pessoas. Por isso, é que é também da competência dos seus associados e dos seus órgãos de gestão, quer sejam aqueles com funções mais temporárias, quer aqueles com funções mais alargadas, prosseguirem com estes objetivos de desenvolver, fomentar e fortalecer, cada vez mais, os elos com a comunidade.
Está disponível para encabeçar uma lista candidata aos órgãos sociais?
Não tenho quaisquer pretensões. O que vigora é o que for o interesse da instituição e aquilo que, na altura, os associados determinarem e os restantes membros que, eventualmente, também queiram fazer parte dos órgãos sociais. O importante é que as pessoas se habituem a participar. Isso é que é importante.
O que gostaria de ver realizado na associação mutualista?
Eu acredito que as instituições terão mais capacidade de se desenvolverem se se unirem em torno de projetos conciliadores. Se procurarem apenas projetos individualizados, a probabilidade de sucesso será, a meu ver, inferior. E, no caso específico da Glória Portuguesa, a região onde está inserida apresenta um número alargado de instituições que abarcam mais de 200 mil associados, pelo que, qualquer projeto integrador nesta área terá um potencial muito diferente e distinto do que se for abordado de uma forma mais individualizada. É como um barco, se for um a remar a velocidade é muito diferente se forem dois ou rês.
E estes projetos integradores poderiam ser aplicados a todo o tipo de respostas das mutualidades?
O período de tempo que estou nestas funções na “Glória” e o tempo que que estou neste setor são relativamente curtos e, portanto, não foi suficiente para desenvolver uma série de outros conceitos e para os fundamentar e reestruturar. De qualquer forma, e de uma maneira genérica, o objetivo inicial das mutualidades mantém-se, mas deve ser desenvolvido e reforçado nas áreas de apoio médico, apoio ao domicílio, lares e outras estruturas similares, já que, com o envelhecimento da população, estes suportes serão, cada vez mais, importantes e fundamentais.
Uma das prioridades da UMP é o rejuvenescimento do Movimento Mutualista para que seja capaz também de alcançar maior dinâmica e potencial de modernização. É uma matéria também pertinente para a Glória Portuguesa?
Sim, e só assim se conseguirá prosseguir com o Movimento. Devemos ser capazes de, à medida que os nossos associados vão envelhecendo, atrair os mais jovens. E se isto, há uns anos, era feito de uma forma quase natural e inconsciente, porque os pais e os avós inscreviam os filhos e os netos, promovendo, desta forma, o ciclo de regeneração, agora a realidade é bem diferente. Aliás, de uma forma genérica, nota-se algum declínio do setor em todas as instituições. Contudo, o Mutualismo é um movimento que se justifica, que apresenta muito valor e cabe aos dirigentes e às associações atraírem as pessoas e criarem formas de as trazer para dentro do movimento.
publicado em 16-07-2021 | 15:59